Igreja de Nossa Senhora das Mercês – Fé, História e Liberdade em Pedra e Madeira

No coração do centro histórico de Mariana, encontra-se a discreta, porém significativa, Igreja de Nossa Senhora das Mercês, construída pela Irmandade dedicada à libertação dos cativos. Também conhecida como igreja das Mercês, esse templo, erguido entre meados do século XVIII e início do XIX, testemunha histórias de fé, luta e identidade emancipadora.

A origem da igreja está ligada a uma antiga confraria fundada oficialmente em 1787, embora haja indícios de atividade religiosa já a partir de 1769. Inicialmente, os devotos se reuniam numa capela primitiva, construída para rezar e organizar ações solidárias de libertação de escravos. Com o tempo, entendendo a necessidade de um templo definitivo, iniciou-se a construção da igreja que vemos hoje, preservando técnicas tradicionais de taipa, madeira e pedra, em contraste com o barroco mais exuberante de outras igrejas locais.

A arquitetura do edifício é encantadoramente simples. A fachada ostenta um campanário discreto e janelas laterais retangulares, acompanhadas por uma porta central. O interior é acolhedor: contém um único altar-mor adornado com talhas trabalhadas e imagens sacras, destacando-se o culto de Nossa Senhora das Mercês e santos ligados à emancipação, como São Pedro Nolasco e São Raimundo Nonato. Nos altares laterais, encontram-se representações da Sagrada Família e de Nossa Senhora do Parto, com entalhe e douramento simples, porém envolventes.

As grades do coro, feitas de jacarandá, e a balaustrada da nave preservam a rusticidade da madeira torneada tradicional. Nas paredes ficam painéis, móveis e pertences que pertenceram a figuras importantes da diocesanidade, como o primeiro bispo de Mariana, reforçando o valor histórico do acervo.

Mais do que um patrimônio arquitetônico, a igreja simboliza o papel ativo da irmandade das Mercês. Formada por negros e mulatos livres ou escravizados, essa confraria se empenhou em meios próprios para libertar pessoas do cativeiro, financiando alforrias e promovendo assistência espiritual. A construção do templo foi uma afirmação de identidade, solidariedade e fé libertadora.

A igreja está tombada como bem de importância histórica, servindo como espaço de memória viva das lutas e devoções que moldaram a sociedade colonial mineira. Anualmente, em setembro, celebra-se uma festa em honra à padroeira, reunindo a comunidade em atos de devoção, música e reverência.

Visitar a Igreja das Mercês é mergulhar em um capítulo pouco contado da história de Mariana: a da religiosidade ativa, da busca por justiça e da luta pela liberdade. Ao pisar em seu chão de pedra, cada passo ecoa histórias de fé e resistência, que fazem dessa experiência um ponto alto da viagem cultural pela antiga capital mineira.

Atualmente, segue temporariamente fechada para visitas.